segunda-feira, 30 de maio de 2011

Guerra: Palocci deveria dizer o que fez e para quem fez


Em entrevista à Revista Época, o presidente do PSDB também fala sobre os rumos do partido

O deputado Severino Sérgio Estelita Guerra, conhecido como Sérgio Guerra, assume nesta semana seu segundo mandato como presidente do PSDB. A hora não é boa. O partido emagreceu, está dividido pelas disputas entre os grupos do senador Aécio Neves e do ex-governador José Serra e integra a menor oposição em mais de uma década. O desafio de Guerra diante dessas adversidades é levar o PSDB de volta ao poder em 2014. Para isso, afirma que o partido tem de se unir e apostar na classe média emergente. Nesta entrevista, Guerra cobra o ministro-chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, e bate muito no governo e no PT. “Com os programas sociais, o PT é o sucessor dos coronéis nos grotões do Nordeste”, afirma.

LEANDRO LOYOLA

ÉPOCA – O PSDB está menor, dividido e faz parte da menor oposição dos últimos anos. Qual é o principal desafio de seu segundo mandato como presidente?

Sérgio Guerra – Entre muitas grandes dificuldades do PSDB, eu gostaria de destacar dois conjuntos de problemas: o primeiro tem a ver com a oposição; o segundo tem a ver com o PSDB em particular. Vamos ao primeiro. O conjunto da oposição diminuiu no parlamento. Começamos um novo tempo e alguns desafios se impõem. Resgatar as instituições, devolver ao Congresso um papel relevante, chamar a atenção para o que se processa lá. Não é nossa meta ganhar votações, o que é muito improvável. Nosso desafio final é falar para fora.

ÉPOCA – Quais são as dificuldades no PSDB?

Guerra – Temos de atualizar o partido. Nesse sentido, a palavra de FernandoHenrique Cardoso é decisiva: não devemos focar nossa ação naqueles grupos sociais mais dependentes. Não é que devamos deixar de disputá-los. Mas nossa prioridade deve ser naqueles grupos que têm menos dependência econômica e social, (que) são capazes de assimilar novas ideias e de olhar mais para o futuro, porque já têm o seu presente estabilizado. Temos de procurar esse conjunto de forças emergentes, que se afirmam como consumidores, e como cidadãos precisam confirmar suas opções políticas. Outro desafio é ter uma linguagem nacional. Um terceiro componente da ação é investir na comunicação. Somos muito prejudicados na comunicação, não somos eficazes.

ÉPOCA – Como o PSDB pretende mudar sua imagem?

Guerra – Estamos pesquisando o Brasil todo, reconhecendo as demandas da sociedade. São pesquisas que vão nos dotar de instrumentos para que tenhamos no PSDB um núcleo de marketing, em busca de uma padronização de imagem. Um marketing de qualidade será (estruturado) nos próximos seis meses. Não é fácil, não é barato, mas é indispensável. Não podemos continuar a ter um comportamenteo errático do ponto de vista da comunicação.

ÉPOCA – Ao seguir a opção propalada por Fernando Henrique, o PSDB não pode ser tachado de partido elitista?

Guerra – Essa acusação de partido da elite, esse comentário dos petistas – “Nós somos o povo, vocês são a elite” – é uma fraude. O que o povo tem a ver com o que estão fazendo agora? Onde está o povo do Palocci? E o do Zé Dirceu? Se for esse o povo, na verdade é o povo que está comprometendo o país.

ÉPOCA – Como aproximar o PSDB do povo?

Guerra – O PSDB já se aproximou do povo, já distribuiu renda, já criou programas sociais, já desenvolveu iniciativas de distribuição de renda. O PSDB não comunicou essa imagem com a eficácia que os petistas o fizeram. Eles (os petistas) multiplicaram por dez o que fizeram; nós dividimos por dois ou três o que fizemos. Tem de dar prioridade à área social, mas os programas sociais não podem acabar com a superação da fome. Têm de evoluir para desenvolvimento da cidadania. Eu posso mostrar que isso não está se dando. Onde os programas sociais são intensos, o que tem crescido muitas vezes é o domínio político, como no passado os coronéis faziam. O PT é o sucessor dos coronéis nos grotões do Nordeste.

ÉPOCA – O que falta ao PSDB hoje?

Guerra – Unidade. Nosso grande problema é de unidade. As personalidades têm de ser menores que o partido. O partido tem de ser maior que as personalidades, por melhores, mais legítimas, brilhantes e consistentes que elas sejam.

ÉPOCA – Como o senhor vai enquadrar Aécio Neves e José Serra na premissa de que as personalidades têm de se submeter ao partido?

Guerra – Não é correto imaginar que o nosso confronto diário seja entre Aécio Neves e José Serra. Eles são grandes, mas o partido é maior que os dois. Nenhum partido tem as opções que nós temos para uma eleição presidencial. O Lula teve de procurar a Dilma para ter um candidato. A Dilma foi uma improvisação. Ela está precisando do back up do Lula para governar. O Lula, por sua vez, tem de resolver se o negócio dele é o governo ou atividade privada. Ou ele é governo – e fica por aí, em torno do governo – ou ele é o cara da área privada, faz palestras, presta esclarecimentos por aí. O importante é que não confunda as coisas. Não vamos inventar outra consultoria – para o Lula.

ÉPOCA – O senhor é empresário?

Guerra – Sou pecuarista.

ÉPOCA – Já prestou consultoria?

Guerra – Não, mas não condeno ninguém por fazê-lo. Mas uma coisa é prestar consultoria no sentido de dar orientação. Outra coisa é usar influência no governo a favor de interesses que não são o interesse público, sendo o ator dessa operação um homem público. Eu sinto muito que o ministro Palocci não tenha esclarecido isso de maneira precisa e clara no primeiro momento. Ele deveria dizer o que fez, para quem fez, por quanto fez e qual era a natureza do serviço. Os homens limpos agem assim. O pior comentário do ministro foi aquele “eu fiz, mas quem não faz?”. É imperdoável que uma pessoa do tamanho dele faça um comentário desses. Isso serve para gente que não tem qualificação.

ÉPOCA – O senhor falou no início da entrevista em devolver ao Congresso um papel relevante. Por que o Congresso tem sido tratado como irrelevante?

Guerra – Por causa das Medidas Provisórias, por conta da grande maioria fisiológica que apoia o governo. Há uma maioria aí que se alimenta do sangue que passa pelas veias do setor público. Essa maioria de lealdade duvidosa apoia o governo – que passa por cima do Congresso. Há dois dias, o líder do governo (deputado Cândido Vaccarezza, do PT) repreendeu (durante a votação do Código Florestal) seus companheiros, dizendo “a presidente Dilma está muito irritada com a atitude de vocês”. Imagina se isso pode ser dito num parlamento.

ÉPOCA – O PSDB e o DEM perderam quadros para o PSD, do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab. O PSD será grande?

Guerra – Primeiro o que eu acho do Kassab: um político muito esperto, nada de pessoal contra ele. Segundo: as habilidades do Kassab não são suficientes para fundar um partido.

ÉPOCA – Pode haver a fusão PSDB, DEM, PPS?

Guerra – É uma hipótese que pode se desenvolver no futuro, não agora. Vamos esperar o desempenho dos partidos nas eleições municipais. Há muita coisa ainda a amadurecer.

QUEM É

Deputado federal e presidente do PSDB. É pernambucano e pai de quatro filhos. Tem 63 anos.Economista, foi senador (2003-2011).É criador de cavalos de raça e colecionador de arte pernambucana.

Um comentário:

  1. Ilustre Dep. sou do PT, e por isso sou favoravel que o ministro palocci esclareça detalhadamente o que fez e para quem, por duas razões iniciais: O ser que exerce cargo público deve prestar contas de suas atividades com aqueles que paga seus salários; O segundo e não menos importante é que é suspeito e muito suspeito, um político que participou da coordenação da campanha da Presidente que foi eleita, de uma hora pra outra, aumentar seu patrimônio a maus de 20 vezes. Não me parece nada provável que de forma lícita se consigua essa feito.
    Quem não dseve não teme, assim como, sou favorável a CPI da ALEPA.

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